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Flip 2012 irá homenagear Carlos Drummond de Andrade

A organização da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty – programou sua 10 edição, em 2012, para o período de 4 a 8 de Julho.

O curador da Flip, Manuel da Costa Pinto, contou que, ao ser convidado para o cargo, sugeriu que Drummond fosse o homenageado no ano de 2011, mas a direção da feira então lhe disse que o poeta deveria ficar para 2012. É a primeira vez que a curadoria anuncia com tanta antecedência o nome da edição que vem a seguir.

Em referência às pedras irregulares do centro histórico de Paraty, que dificultam a caminhada, o curador brincou que a Flip de 2012 já tem até slogan: ‘Tinha Uma Pedra no Meio do Caminho‘, verso de um dos poemas mais famosos de Drummond.

 

Carlos Drummond de Andrade

O escritor mineiro publicou sua primeira obra em 1930 chamada “Alguma poesia”, que conta com os poemas “José”, “Os ombros que suportam o mundo”, “Poema de sete faces”, “Quadrilha”, “Elegia 1938”, “Confidência do Itabirano”, “A flor e a náusea” e “Mãos dadas”.

Antes, em 1928, porém, Drummond teve um de seus poemas mais famosos publicado na “Revista de Antropofagia” chamado “No meio do caminho”:

 

“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.”

 

Um olhar crítico e político também toma conta de Drummond em seus poemas na década de 40, no período da Segunda Guerra Mundial. Um deles é “Os ombros suportam o mundo”:

 

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Além das centenas de poesias, Drummond também publicou prosas, livros infantis e antologias poéticas. O escritor morreu em 1987, aos 84 anos.

O curador da FLIP 2012 Miguel Conde anunciou o primeiro participante da festa: o norte-americano Jonathan Frazen, autor de “Correções”.

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